Cerdán chega para depor no Supremo Tribunal sobre suposta fraude em obras públicas em meio a gritos de "corrupto"

O ex-secretário-geral do PSOE, Santos Cerdán, chegou nesta segunda-feira ao Tribunal Supremo (TS) em meio a gritos de "corrupto" e "sem-vergonha" para depor como réu no suposto esquema de cobrança de comissões em troca de contratos de obras públicas, que está sendo investigado no chamado "caso Koldo".
Cerdán chegou pouco antes das 10h, horário previsto, em meio a grande expectativa da mídia. Acompanhado de seu advogado, Benet Salellas, optou por não fazer nenhuma declaração à imprensa.
O juiz Leopoldo Puente o convocou ao tribunal após receber um relatório da Unidade Operacional Central (UCO) da Guarda Civil que o colocou no epicentro da corrupção, junto com o ex-ministro dos Transportes José Luis Ábalos e seu ex-assessor ministerial Koldo García.
Fontes da defesa indicam que Cerdán está disposto a testemunhar sobre as acusações de crime organizado e corrupção passiva, embora ele já tenha declarado publicamente que não se reconhece nas gravações de áudio em que se baseia o relatório, então tudo indica que ele poderia fazer a mesma alegação perante o tribunal superior.
O juiz de instrução já anunciou que, após tomar seu depoimento, considerará a adoção de medidas cautelares contra ele. Decidiu proibir Ábalos, Koldo e o suposto mentor do esquema, o empresário Víctor de Aldama, de deixar o país, retirar seus passaportes e exigir que compareçam regularmente ao tribunal.
O 'Relatório Cerdán'O envolvimento de Cerdán no caso Koldo ocorreu em decorrência do relatório elaborado pela UCO com base em gravações de áudio feitas por Koldo entre 2029 e 2023, que refletem conversas entre eles e Ábalos, bem como mensagens de WhatsApp trocadas por eles.
Segundo os agentes, a suposta conspiração começou em 2015 em Navarra — área de influência de Cerdán e Koldo — com eles como protagonistas e cresceu à medida que tanto eles quanto, mais tarde, Ábalos ganharam destaque político.
Investigadores sugerem que o papel de Cerdán nesses supostos esquemas de corrupção mudou. Assim, com a ascensão de Ábalos e Koldo ao Ministério dos Transportes, ele perdeu importância, tornando-se gerente de "pagamentos", enquanto, após a queda deles, retornou ao topo, segundo a UCO.
A Guarda Civil afirma que os contratos de obras públicas sob investigação foram adjudicados às construtoras Acciona, Obras Públicas y Irrigation (OPR) e Levantina Ingeniería y Construcción (LIC). As propinas que teriam recebido somente da Acciona somaram € 620.000, embora lhes sejam devidos € 450.000. "Vou atrás de tudo", afirmou Cerdán.
45% proprietário do ServinabarUm dos pontos-chave do interrogatório de Cerdán deverá ser o contrato privado que a UCO (Tribunal Central de Justiça) encontrou em 10 de junho durante uma busca na casa do empresário Joseba Antxón Alonso Egurrola. O documento, apresentado ao Supremo Tribunal, mostra que em 2016 — um ano após o início do suposto esquema — o ex-líder socialista comprou 45% da Servinabar por € 6.000.
O relatório da UCO mostra que esta empresa, na qual Alonso Egurrola aparece como único diretor, recebeu mais de 75 milhões de euros em contratos de obras públicas adjudicados pelo governo de Navarra, que estão sob análise do Supremo Tribunal.
A defesa de Cerdán questionou a validade do documento, reduzindo-o a "um mero contrato privado que nunca foi elevado à condição pública" e, portanto, "não teve efeito jurídico, nem teve qualquer efeito jurídico".
No entanto, o Conselho Geral do Notário esclareceu que os contratos privados não formalizados como escrituras públicas, como seria o caso aqui, são eficazes entre os signatários, mas não com terceiros, alertando que muitas vezes buscam ocultar o verdadeiro titular.
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